quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Da ética

Quando determinado objeto sofre uma deformação e retorna ao seu estado original, dizemos que houve uma deformação elástica. Quando a deformação é permanente, e o objeto não volta ao seu estado original ocorre um deformação plástica. Estes são dois conceitos básicos da Mecânica Clássica, uma das grandes partes da Física.

Pois a ética é assim: plástica!

Essa sucessão de escândalos sobre corrupção que assola o país atualmente, e que já vem permeando a história do Brasil, faz pensar.

É tudo tão ilógico e descabido que assusta.

O conceito de servir foi há muito esquecido e substituído pelo usurpar. Temos a figura do Usurpador Público. Eles competem entre si, em uma bizarra e deplorante maratona onde o vencedor é quem mais usurpa.

Não vou listar aqui as afrontas políticas e éticas às quais somos submetidos. Basta dizer que tudo é feito em nome do poder e do dinheiro. Quando eu digo tudo, quero dizer TUDO DE RUIM. Tudo mesmo. Mentir, roubar, trair, matar, trapacear, etc.

A coisa é tão intensa que beira o absurdo. Parece um conto de Borges ou uma situação sem pé nem cabeça daquelas de Alice no país das maravilhas. Uns organismos vivos como Severino Cavalcanti, Antônio Carlos Magalhães e recentemente Renan Calheiros são figuras de ficção. O mundo no qual eles vivem, lhes é próprio, criado e regido por suas próprias leis. Sendo assim, eles tentam adaptar a realidade ao seu próprio mundo, cujos pilares são o poder e o dinheiro.

Nessa adaptação da realidade ao seu próprio mundo, eles atropelam as pessoas, as instituições, o país.

Mas o que eu acho importante é o seguinte: um universo como o que eles vivem não se constrói de uma hora para outra. O nosso mundo interno é fruto de vivências, experiências, personalidade, etc. Uma série de fatores que são elaborados ao longo da vida. Coisas que um antropólogo ou psicólogo pode explicar melhor.

Nesse universo deles falta um elemento inquestionável: a ética.

Em algum momento de suas pobres vidas eles prescindiram da ética pela primeira vez. E essa vez bastou. Esse é o ponto.

Mas o querer levar vantagem em tudo está impregnado na população. Muitos desses 500 organismos vivos que estão lá em Brasília saíram de camadas modestas da população e repetem em uma proporção maior o que a população faz também.

O comércio de objetos roubados, dar troco errado, receber troco errado, furar fila, explorar o empregado, roubar do empregador, adulterar gasolina, abusar da boa fé das pessoas, super -faturar um trabalho, enfim, qual a diferença entre cada uma dessas coisas e querer pagar a pensão da mulher com dinheiro público?

É só uma questão de proporção. Mas o princípio é o mesmo.

E quando começa-se com pequenas práticas anti-éticas, isso fará parte da cultura da pessoa. Será incorporado ao seu proceder. Passa a ser natural e aceitável.

(O que se vê pela televisão choca porque a televisão diz que é chocante e é grave. Não fosse a mídia dar o ar de grave, muitos não se chocariam porque lhes seria natural.)

Criar o conceito de ética é uma questão de educação. As pessoas têm de ser educadas com noções éticas.

E a ética é plástica. Se eu ceder uma vez em termos éticos, dificilmente voltarei atrás. Ad infinitum.

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