quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Boa sorte seu “dotô”

Os advogados, os médicos e delegados policiais são historicamente chamados de doutores. Talvez pelo fato de os cursos de direito e medicina serem de forma geral os mais antigos nas universidades federais, destacando os portadores desses certificados do resto da população, já com um alto grau de baixa auto-estima. Junta-se a isso o mito do “médico-deus pode tudo” detentor de um saber inquestionável e o “adevogado acima da lei” sabedor do que se pode e não se pode fazer. Além do portentoso, ainda que simbólico (mas como há símbolos poderosos!), título de bacharel.

Esses doutores hoje são produzidos em uma escala industrial agressiva, que deixaria Ford impressionado. Hoje, qualquer pequena cidade, além da igreja, boteco, pracinha e lan-house, tem também uma faculdade de medicina ou direito.

Recentemente, um grupo de recém-formados pela UEL (Universidade Estadual de Londrina - PR) saiu para encher a cara, em frente ao Hospital Universitário, um dia antes da formatura. Seria uma bebedeira normal não fosse o fato de um bando deles decidir invadir o Hospital após a confraternização. Invadiram aos gritos, soltando rojões e causando tumulto.

Os vândalos identificados foram proibidos de colar grau no dia seguinte.

Apesar de o fato ser chocante, uma demonstração de imaturidade, falta de ética, enfim, um total despreparo humano e profissional, o que mais chocou foi o depois.
Viu-se os formandos não-bárbaros (os que não participaram da algazarra) todos de preto, como forma de protesto, no dia da formatura. Que bom, pensei eu, fizeram um protesto contra a ação dos colegas e em solidariedade aos enfermos importunados no hospital. QUAL!!! ELES ESTAVAM A FAVOR DE SEUS COLEGAS, CONTRA A DECISÃO TOMADA PELA REITORIA!
O reitor ainda promoveu uma palestra sobre ética no dia da formatura, da qual todos saíram calados sem se manifestar.
O manifesto dos alunos foi um show de arrogância, infelizmente já bastante peculiar à classe médica. Essa arrogância, muito amiga da incompetência se multiplica. Propaga-se e alastra-se pelos quatro cantos do país. Jovens médicos desdenhando a saúde pública. Desdenhando o assalariado que através de seu imposto estadual ou federal mantém a universidade na qual jovem “dotô” se formou.
Mais um problema ético, como já comentado aqui no blog.
Enquanto os jovens invadem o hospital, Daniel Manoel da Silva, 58, desabrigado em Santa Catarina, e que perdeu cinco familiares soterrados, devolve 20 mil reais achados em um casaco recebido como doação.
Sua neta, Daniele Maria Annater, de 5 anos, deve ter aprendido uma lição de ética à qual os “dotô” nunca tiveram acesso.

Um comentário:

Josane disse...

Triste país este em que o errado ainda se acha no direito de protestar, de reclamar...de achar que está certo. Estão cegos? Me pergunto....Será que eles são assim ou a Justiça e a Cultura Brasileita da impunidade os criaram assim?